Tentar explicar o que é ser actor

Tentar explicar o que é ser actor

O que é ser-se actor. 

É das coisas mais difíceis.

No entanto, é a mais simples. Paradoxalmente real.

É simples porque é “um fazer de conta” que se leva muito a sério, tal como as crianças que quando estão a brincar se envolvem de alma e coração e carne no jogo. Depois quando acaba, acaba. Soa simples e é simples.

Mas depois há algo para além do jogo, qualquer coisa que entra para lá da linha ténue entre dimensões do real e irreal. E há a mecânica e a carpintaria de todo este trabalho tão artesanal como colectivo. 

Quando se actua é o momento do fogo fátuo. Da emoção efêmera que se vive se extingue assim que a convenção se esbate. Que quando se diz amo-te no cinema ou no teatro se está a personificar o amor inteiro e não o amor particular. Que quando se beija alguém na ficção o beijo só perdura para quem vê…não para quem o dá. Que o corpo se torna neutro. Que é apenas barro e que as emoções o atravessam sem o moldarem…É difícil explicar esta arte tão antiga quanto o Homem e no entanto tão incompreendida. Por vezes tão adulterada. Por vezes tão endeusada.

Há frases várias de ícones do teatro e do cinema que ajudam a dar uma gramática a esta arte, para que se possa entender, sobretudo o porquê de se fazer dela uma profissão. Que o é, com códigos e técnicas como qualquer outra, e ainda assim tão diferente.

Há poemas que a enlevam outros que a lançam por terra….

Arte paradoxal. Ofício onde o artifício e a verdade se interlaçam.

Difícil também, é explicar este porquê de se querer ser barro. O porquê de se querer procurar sempre, outras pessoas dentro de nós próprios.

É a par com a música o que de mais parecido encontro com o acto de meditar. Estar ali a ser algo que não nós próprios, e ainda assim estar absolutamente presentes naquilo que fazemos. Estar e ser, naquele momento, um outro que não se é, sendo.

Depois tudo desaparece como uma chama que se extingue e ficamos nós. Ficamos só nós, se nos soubermos não perder, nessa arte de vestir e despir outras pessoas. Nesse labirinto onde apesar de tudo reside a ameaça do minotauro. 

Tentar explicar…o impossível. 

Eu sei…sou uma alma onírica. Nada a fazer. 

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